segunda-feira, outubro 03, 2011

Mais do Mesmo - IPv6


Notícias de que a internet evolui a passos largos não são mais novidade. A facilidade – e velocidade - com que nos comunicamos e nos informamos é algo fascinante. A Web 2.0 nos leva por um caminho sem volta onde é impossível viver sem a tecnologia.
Porém, a Internet de hoje está frente a uma importante transição. A escassez de endereços IPs do padrão IPv4 utilizados atualmente traz à tona a migração para o padrão IPv6.
Quando a internet deu seus primeiros passos, ainda na época da Arpanet, ninguém poderia prever que se tornaria o que é hoje. O projeto foi consolidado com endereços padrão IPv4 de 32 bits, representados por quatro números decimais separados por pontos. 192.168.1.5, 187.104.33.20 e 200.132.164.33 são exemplos aleatórios de endereços IPv4. Representações como esta podem gerar cerca de 4.294.967.296 endereços possíveis, sendo que muitos destes são reservados para uso privado, multicast e teste. Ainda que pareça ser uma quantidade expressiva de combinações de endereços, na prática não é nada suficiente para atender à rede mundial de computadores que não pára de crescer.
Além do rápido crescimento da Internet, um outro fator que também contribuiu para a escassez de endereços IPv4 foi a má distribuição ocorrida no início do projeto. Empresas como HP e IBM receberam grande quantidade de endereços públicos e, de certa forma, contribuíram para um rápido esgotamento destes.
Algumas técnicas como NAT e CIDR ajudaram a postergar o esgotamento dos endereços IPv4, porém hoje a realidade nos mostra que não há mais como adiar a implantação do novo padrão IPv6. Segundo dados do Comitê Gestor de Internet no Brasil, a IANA (Internet Assigned Numbers Authority), que é a entidade que controla os números IPs no mundo, já não possui mais endereços IPv4 disponíveis. Os últimos blocos restantes já estão nas mãos das entidades responsáveis pela distribuição regional, em seus respectivos continentes. Na América Latina a entidade responsável pela distribuição é o LACNIC. No Brasil esta distribuição é feita pelo NIC.br, órgão ligado ao Comitê Gestor de Internet.
É importante destacar que este esgotamento não significa o fim da Internet, mas com certeza comprometerá o seu crescimento. Por isso a importância da migração para o padrão IPv6.
Especialistas afirmam que não haverá um “Dia D” em que a internet deixará de usar o IPv4 para fazer uso do IPv6. A transição ocorrerá de forma gradativa. Atualmente destacam-se duas técnicas que ajudarão no processo de transição: pilha dupla e tunelamento.
A técnica de Tunelamento fornece um método em que endereços IPv6 possam trafegar “encapsulados” em cabeçalhos IPv4. Desta forma redes IPv6 poderão receber e enviar dados através de redes IPv6 e IPv4, bastando que seja retirado o cabeçalho IPv4 quando os pacotes encontrarem uma rede padrão IPv6.
Segundo Wendell Odom (2008) Pilha Dupla significa que o host ou roteador têm endereços IPv4 e IPv6 ao mesmo tempo associados a cada interface de rede, de forma a poder enviar e receber dados de e para os dois padrões de redes.
Em qualquer dos dois casos, Pilha Dupla ou Tunelamento, existirá a necessidade de utilização de equipamentos de rede (em especial roteadores) com maior poder de processamento e capacidade de armazenamento de informações. Grandes empresas de tecnologia já trabalham em soluções para suprir esta necessidade, inclusive com uma forte gama de produtos já disponíveis no mercado. Os Sistemas Operacionais atuais também já contam com suporte ao IPv6.
Existem diferenças consideráveis entre endereços IPv6 e IPv4. Enquanto o endereço IPv4 possui 32 bits (como já dito anteriormente), o IPv6 conta com 128 bits representados por algarismos hexadecimais. Estes algarismos são separados por dois pontos a cada 16 bits. Um exemplo de endereço IPv6 pode ser 2340:1111:AAAA:0001:0213:19FF:FE7B:5004.
Para facilitar a escrita, os zeros à esquerda de cada bloco podem ser omitidos. No caso acima o endereço também pode ser escrito assim: 2340:1111:AAAA:1:213:19FF:FE7B:5004. Uma outra forma de abreviação bastante usual é omitir blocos consecutivos de zeros, por exemplo: 2340:0000:0000:0213:0000:0000:5004 pode ser escrito 2340::213:0000:0000:5004, mas nunca 2340::213::5004, pois desta forma tornaria-se impossível deduzir a quantidade de blocos abreviados. Uma terceira representação pode ser 2340::213:0:0:5004.
Um endereço de 128 bits como o IPv6 pode gerar uma quantidade absurda de combinações. Segundo Antônio Moreiras, coordenador do projeto IPv6 no Brasil, analogicamente se cada endereço IPv6 fosse um grão de areia, a totalidade das combinações possíveis geraria um montante similar à área do planeta terra. Esta com certeza é a grande vantagem do padrão IPv6 sobre o IPv4, mas não é a única.
Diferente do que ocorre no cabeçalho do IPv4, que possui tamanho variável, o cabeçalho IPv6 possui tamanho fixo. Isto faz com que os roteadores possam processá-los com mais eficiência, sem a necessidade de calcular o seu tamanho. Uma outra grande vantagem é o suporte ao IPSec, que é padrão no IPv6.
Em um futuro próximo, cada periférico configurado com um endereço IPv6 Link Local, similar aos IPs públicos do IPv4, terá acesso direto à rede mundial de computadores sem a necessidade de NAT. Existirá o conceito mais claro de endereço IP único por interface de rede no mundo. A IANA hoje trabalha na disponibilização dos endereços IPv6 de forma que cada região possa ter uma faixa com prefixo específico. O objetivo é diminuir as tabelas de roteamento dos roteadores espalhados pelo mundo, já que a quantidade de periféricos conectados diretamente será bem maior.
Enfim, poderia ficar horas argumentando vantagens e, mais do que isso, necessidades da implantação do IPv6. Como já citado várias vezes, é um caminho sem volta na busca pela continuidade de crescimento da Internet. Já existem estudos que mostram, por exemplo, eletrodomésticos conectados à grande rede. Já ouviu falar na geladeira que poderá consultar, através da Internet, receitas com base nos alimentos disponíveis? Ela pode estar mais perto da sua casa do que você imagina.

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